Por Redação
Vilã combatida ao longo de décadas no Brasil, a evasão escolar está de volta. Para os especialistas perder alunos permanentemente no retorno às aulas presenciais no atual estágio da pandemia de Covid-19 é um risco real. No último dia 20, as secretarias de educação do estado e do município do Rio anunciaram dados alarmantes: na capital a estimativa é de que houve evasão de 25 mil estudantes e na rede estadual cerca de 80 mil alunos não retornaram às escolas. Com a experiência de que quem foi secretário de Estado de Educação até maio de 2021, o ex-deputado Comte Bittencourt, analisa o tema e aponta ações que deram resultado na etapa de retomada das aulas no sistema híbrido, em fevereiro.
1. Como parlamentar que legislou sobre educação e esteve à frente da Seeduc-RJ em parte do período da pandemia, exatamente no momento mais agudo, qual sua análise sobre a evasão escolar registrada na rede púbica estadual nesta volta às aulas?
R: A evasão escolar é um indicador fundamental para avaliar o desempenho da educação pública, pois, se o estudante não estiver inserido na rede, o estado não está fazendo a sua parte. Com a pandemia, que resultou na perda do vínculo e da relação cotidiana com a escola, o problema voltou a assombrar vários países, como o Brasil. Como o retorno às aulas 100% presenciais é um fenômeno recente, vivemos um momento decisivo, em que todo o esforço é imperativo para reaproximar os alunos faltantes e suas famílias do ambiente escolar. Se perdermos o momento pode ser tarde demais.
2. O que poderia ser feito objetivamente para que os alunos retornassem à escola?
R: Como secretário de Estado de Educação no início do ano, vivenciei uma situação semelhante, com o início do modelo híbrido com aulas presenciais e remotas. Antes da retomada realizamos uma campanha publicitária, com o tema “Bora Estudar”, que dialogou diretamente com os alunos. Também foi realizado um trabalho de acolhimento antes das aulas propriamente ditas em que foram abordados aspectos sociais e psicológicos destes meninos e meninas, que já estavam sem nenhum tipo de aula presencial há quase um ano. Além disso, o trabalho de busca ativa realizada por gestores escolares, professores, representantes de grêmios e pela comunidade escolar também foi decisivo para chamar os alunos de volta à rotina escolar. Tudo isso contribuiu para que, em 2020, fosse registrado o recorde de alunos matriculados dos últimos cinco anos.
3. Para finalizar, além do combate à evasão escolar, o que você apontaria como prioridade para as escolas públicas do país neste momento de retomada da rotina de aulas presenciais?
R: Além de resgatar a relação do aluno com a escola, é preciso aproveitar que a pandemia acelerou o ingresso da tecnologia na rotina dos estudantes de diversas redes públicas, como ocorreu nas escolas estaduais do Rio. O ensino híbrido, ou seja, remoto e presencial, é uma realidade e precisamos garantir a manutenção da conectividade gratuita através do link patrocinado à internet para fins educacionais aos alunos de escola pública. Estamos próximos do início da tecnologia 5G no Brasil e nossos alunos e escolas públicas precisam estar preparados para uma verdadeira revolução no aprendizado. O futuro da educação nos pós-pandemia exige que a tecnologia esteja presente no sistema de ensino, não há como retroagir, em relação a esta realidade.