Entre as lições de Thomas More e o terror de Guy Fawkes
Rodrigo Amorim
A história britânica, sangrenta e ao mesmo tempo plena de exemplos de revoluções sem tiros e sem morte, sempre nos ensina sobre democracia e respeito às instituições. Não há conservador no mundo que não admire as lições, por exemplo, do primeiro-ministro Winston Churchill, que foi sem sombra de dúvida a grande liderança do Ocidente contra os planos hediondos. É de Churchill a sentença "nações que lutam e são vencidas podem se reerguer, as que se rendem, jamais". Nada mais conservador, que em síntese é aquele que defende as instituições e tudo que resiste ao teste do Tempo, esse soberano e déspota.
Além, claro, do conservadorismo hoje ter como grande "bíblia" (com aspas, por favor) a obra Como ser um conservador, do grande Roger Scruton, que perdemos há três anos. Um grande leitor, como todos nós, conservadores, de outro grande filósofo do Reino Unido, o irlandês Edmund Burke, autor de "Reflexões sobre a Revolução da França", um documento definitivo sobre o perigo das "revoltas" que a esquerda até hoje defende.
Mas há dois exemplos na história britânica que nós, da classe política, precisamos ter na mesinha de cabeceira ao lado da cama. Vou abordar primeiro o exemplo negativo, que é o do soldado Guy Fawkes. Por um certo tempo, a esquerda venerou sua imagem, que vem a ser a mesma exibida no filme "V de Vingança". Quando os militantes de esquerda começaram a depredar o Rio de Janeiro nas "jornadas de 2013", essa máscara era muito utilizada. E com efeito, devemos reconhecer que eram adequadas, uma vez que o que Fawkes quis na famosa "Conspiração da Pólvora" em 1605 era assassinar o Rei Jaime I e todos os membros do Parlamento britânico. Para isso, instalaria barris de pólvora. Esse terrorista é até hoje venerado pela esquerda, que cada vez mais crê em arroubos e destruições para fazer política. Os bons parlamentares devem evitar a tentação dos arroubos e das ações de apoio a insanidades como essa. A classe política precisa, cada vez mais, recusar o terrorismo e o vandalismo e criar novas relações em que haja cláusulas pétreas e, acima de tudo, princípios. Recusar o que a esquerda sempre tentou, por exemplo, em 2013 e 2014. Em 2013 quase destruindo o Centro e o Leblon em "manifestações pacíficas em que no final apareciam uns vândalos que não tinham nada a ver" e em 2014 quase destruindo a Câmara dos Vereadores depois de recusarem a decisão soberana da Presidência em designar o líder da CPI dos Ônibus. Desnecessário lembrar que a extrema imprensa deu tom ameno a ambas as "iniciativas". O resultado de tudo aquilo? Sabemos que foi menos que nada. Pela absoluta falta de princípios de quem reivindicava e pelo desprezo de quem geria a Prefeitura.
E aí menciono a outra grande lição britânica, o Martírio de Thomas More. Nascido em 1478, em Londres, More foi filósofo e escritor, além de advogado, diplomata e político britânico na época de Henrique VIII. Católico fervoroso, tendo seus princípios solidificados por sua religião, ele era contra o divórcio. Quando Henrique VIII quis se divorciar de Catarina, More deixou seu cargo de chanceler porque entendia que a separação era contrária às leis da Igreja. More se recusou a fazer um juramento que empoderava Henrique VIII na Igreja dentro da Inglaterra e isso significou sua condenação à morte.
É claro que não estou defendendo aqui que políticos sacrifiquem suas próprias vidas, e sim que não abram mão de duas capacidades: a de Diálogo (que Guy Fawkes demonstrou não ter) e a de ter Princípios (a lição de Thomas More). São lições que a esquerda precisa aprender, que é entender que sem diálogo não se chega a lugar algum e sem princípios - como alguns vereadores esquerdistas que se entregaram ao Eduardo Paes e tudo aprovam - não se chega a lugar algum. Quem sabe com essas lições a esquerda do Rio possa participar de um grande esforço de reedificação do nosso Estado - esforço que hoje apenas a direita efetivamente realiza. Aí, sim, com Diálogos e Princípios o Rio vai estar acima de tudo!