O sopro de Deus

Por Dom José Francisco é arcebispo de Niterói

Dom José

Dom José Francisco

Diante de um grupo amedrontado e trancado, Jesus se manifesta: "A paz esteja com vocês. E, dizendo isso, soprou sobre eles: Recebam o Espírito Santo".

Nem é preciso muita intimidade com o livro do Genesis para perceber a ligação do gesto de Jesus com a criação do primeiro homem, aquele Deus que modela do barro da terra, sopra-lhe nas narinas e ele ganha vida. É tudo obra do sopro divino, do ar que renova a vida em meio a todo cansaço.

No pensamento antigo, respirar o ar do outro era o equivalente a transformar-se nele.

Imagine, se só por um dia, Cristo se transformasse em você: se Ele acordasse em sua cama, vivesse a sua vida, assumisse a sua agenda. Naquele dia, tudo o que é seu, seria dele, e tudo o que é dele, seria seu.

Durante um dia inteiro, seu coração seria o Dele, e o seu coração, mesmo, esse daí, teria um dia de folga. As grandes prioridades não seriam mais as suas. As suas decisões não seriam mais tomadas por você. Um Outro ser iria modelar o seu jeito de ser.

Será que alguém notaria a mudança? Você mesmo, notaria? Se sentiria outro?

Viveria melhor, apreciaria melhor o nascer-do-sol, enfrentaria melhor os engarrafamentos do trânsito e da vida? Mudaria as coisas do jeito insosso e comum como sempre foram feitas?

Se Cristo assumisse seu coração, por 24 horas, haveria uma mudança de uma forma tão radical, que todas as outras sequer seriam notadas. O 3 em 1 que é você - sua realidade física, psíquica e espiritual tão única, que não cede lugar a que haja nenhum outro em seu lugar - iria se transformar.

Mas esse já é o "trabalho" do Espírito: transformar sua dura realidade humana em "ares" novos: um sopro de vida na sua vida. Em nós, o Espírito é o oxigênio pronto a atravessar nossos pulmões e nosso coração e nos manter vivos, sendo quem somos, não para nós, mas para Cristo.

Simples como cheiro de chuva.