Troca no INSS
Disputa política envolvendo Rodrigo Neves pode ser o verdadeiro motivo
Diferente do que vem sendo ventilado nos últimos dias, a saída de Glauco Wamburg da presidência do INSS pode ter relação com a intenção do Ministro Carlos Lupi (presidente afastado do PDT) de nomear Rodrigo Neves em seu lugar.
As coisas não andam boas para o Ministro Carlos Lupi e muito menos para a pasta que preside, o Ministério da Previdência. Essa semana, alguns canais de mídia especularam a saída do atual presidente do INSS, Glauco Wamburg, que é servidor de carreira daquele órgão.
A associação feita seria de que o chefe do INSS cairia em razão de divergências internas com a chefia de gabinete do ministro, ocupada por Marcelo Panela (amigo de Lupi há muitos anos, cujo nome já foi envolvido em escândalos de extorsão e corrupção quando integrante da equipe do Ministério doTrabalhoentre03-06-2007e04/08/2011).
A reportagem do Jornal “O Fluminense” foi apurar esta versão e chegou a um verdadeiro enredo que envolve desde ciúmes da equipe do Ministro contra o atual presidente, disputas internas no INSS, embates políticos por cargos na Autarquia e até possíveis irregularidades em contratos e temas imobiliários da Autarquia.
Crise no relacionamento
Conforme apurou nossa equipe junto a fontes do próprio Ministério, não é de hoje que Panela e Glauco andam se estranhando. A indicação do presidente já teria sido feita a contragosto do chefe de gabinete, que preferiria manter à frente da pasta o ex-presidente da Autarquia Guilherme Serrano. A indicação de Guilherme, embora também fosse servidor de carreira do órgão, não prosperou em razão de sua íntima ligação com o ex-ministro de Bolsonaro José Carlos Oliveira, por quem fora nomeado. Para Lupi, Panela fracassou ao encontrar um nome compatível com os compromissos do novo governo, embora tenha nomeado Guilherme em sua assessoria direta no Ministério da Previdência.
O ministro passou a procurar diretamente um servidor de carreira com o perfil para o cargo, deixando de lado as indicações de seu chefe de gabinete, o que deu início à discórdia sobre o nomeado.
Mas não parou por aí, o clima entre Panela e Wamburg esquentou quando o chefe de gabinete passou dar ordens sobre processos e nomeações na autarquia, recebendo reação negativa do presidente, o que teria ensejado o rompimento definitivo entre ambos. De lá para cá, foi articulada por Panela uma intensa campanha para a substituição do atual presidente da Autarquia, que teria culminado com o anúncio desta última semana.
Disputas internas
Servidores também relataram que internamente a coisa não andava boa para o presidente do INSS, obtivemos informações de que foi montada uma verdadeira rede de articulações para atrapalhar a gestão de Glauco.
Principal parceiro do Chefe de Gabinete Panela neste projeto, o Diretor de Orçamento, Finanças e Logística, Alessandro Stefanutto, que também possui intensas relações com o ex-Ministro Oliveira, foi nomeado pelo gabinete do ministro como substituto eventual da presidência e tornou-se o principal responsável pela mobilização de um verdadeiro motim interno contra o presidente, articulando-se com alguns superintendentes e coordenadores para atrapalhar a gestão e fazer correr sem a participação da autoridade maior do órgão os assuntos que eram de interesse do chefe de gabinete do ministério.
De acordo com as fontes ouvidas pela nossa reportagem, o diretor montou um gabinete paralelo no 5º andar do prédio, andar em que fica sua diretoria, despachando com empresários e autoridades os temas encomendados pelo seu mentor e chefe de gabinete do ministro.
Ainda de acordo com nossas fontes, além de Alessandro, corriam por fora na disputa por uma possível sucessão o Diretor de Benefícios André Fidélis, mais chegado a Glauco, mas que há anos luta pela chance de ocupar a presidência, Ana Tietz, queridinha de Lupi e autora do texto parcialmente lido pelo Ministro em sua posse, o superintendente da Região Nordeste Rogério Souza, ex-ocupante da DIROFL e ex-diretor de Logística do Ministério quando da gestão do bolsonarista Carlos Oliveira, mas que goza de relações próximas ao atual Secretário Executivo do Ministério da Previdência Wolney Queiroz, e também sonhando com vaga apareceu o superintendente do Rio de Janeiro, Marcos Fernandes, que possui relações antigas com o PT, mas se aproximou de Marcelo Panela e do PDT para garantir sua estabilidade na função.
Embates Políticos por cargos na Autarquia
Embora o Ministro Lupi tenha tentado blindar a estrutura do INSS de seus deputados através da nomeação de um servidor de carreira com perfil técnico, ao que parece o tiro pode lhe ter saído pela culatra.
Apuramos que Glauco, que é servidor há 16 anos da Autarquia, assumiu posicionamento contrário à nomeação de nomes que, na sua visão, não possuíam perfil técnico para os cargos, mas que que seriam do interesse de Lupi, Panela ou de pedidos políticos que lhe teriam sido feitos. Alguns casos foram relatados à nossa equipe, dos quais destacamos dois mais relevantes.
O primeiro envolve a Superintendência do Rio de Janeiro. Após a exoneração de Caio Figueiredo, em razão de baixo rendimento, o substituto Marcos Oliveira Fernandes assumiu a função, ainda sem ser nomeado. O presidente do INSS era contrário à manutenção de Marcos, que segundo sustentava, não possuía condições técnicas para assumir a função. Já o Ministro, defendia a nomeação de Marcos por acreditar que o mesmo seria uma aquisição interessante para o PDT do Rio de Janeiro. Marcos Oliveira já foi vereador e presidente da Câmara do Município de Nova Iguaçu, onde o PDT vem perdendo bastante espaço nos últimos anos.
Segundo apurou-se o acordo entre Marcos e Lupi, envolveria a nomeação de Marcos Fernandes como superintendente, em troca da filiação de seu filho, Tadeu Fernandes, ao PDT para que seja candidato a vereador nas eleições de 2024, com apoio da máquina da Autarquia na Região.
Marcos foi nomeado superintendente do INSS no Estado do Rio de Janeiro na última sexta-feira, dia30 de junho, logo após as divulgações da saída de Glauco Wamburgda presidência.
Outro caso relatado à nossa equipe, envolve a nomeação do superintendente do Nordeste Rogério Souza. Segundo relatos, a nomeação do superintendente também teria acontecido a contragosto do presidente que defendia a indicação de alguém com perfil da área de benefícios, mais alinhado às estratégias para o enfrentamento das filas, que no nordeste assumem os níveis mais elevados do país. Glauco teria sido vencido pelo compromisso político de Lupi com tal nomeação para o atendimento de interesses políticos locais.
Outras situações envolvendo a resistência às indicações políticas pelo presidente nos foram repassadas referentes a gerências executivas em todo o país, nas quais a posição do presidente e servidor de carreira se opunha às articulações e acordos políticos, tais como para as gerências do Maranhão, Piauí, Manaus, Florianópolis, Rio de Janeiro e as Superintendências de São Paulo e do Sul do país.
A manutenção do presidente teria se tornado um verdadeiro entrave aos avanços das tratativas políticas importantíssimas para a própria sobrevivência de Lupi à frente do Ministério. Por isso mesmo, na hora de procurar um substituto para ocupar o lugar do servidor de carreira Wamburg, o ministro estaria fazendo uma escolha política, atendendo o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves, muito próximo de seu chefe de gabinete Marcelo Panela.
Possíveis irregularidades em contratos e temas imobiliários da Autarquia
Nossa equipe recebeu relatos de que a saída do atual presidente, se concretizada, estaria atrelada ao fato de Wamburg ter se posicionado com intensidade contra a repetição do modelo de contratação da estrutura de Call Center que atende ao 135, telefone por meio do qual é realizado os atendimentos da autarquia.
Conforme apurado o presidente defendia que o modelo atual gera prejuízos para a Autarquia (que efetua pagamentos por postos fixos de atendimento quer sejam utilizados ou permaneçam ociosos)e que as licitações recentemente realizadas como no caso do Call Center que atende ao telefone 136, Disque-saúde, do Ministério da Saúde, já teriam sido formuladas em outra modelagem (sistema de pulsos, em que se paga apenas por ligações efetivamente atendidas).
Ainda em fevereiro, logo após a posse de Wamburg como presidente, o Ministro Lupi editou duas portarias que esvaziaram as competências da presidência avocando-as para o Ministério. Isso facilitou o caminho para que a chefia de gabinete de Lupi, em articulação com o Diretor Alessandro Stefanutto, pudesse encaminhar o tema, à revelia da chefia maior do órgão.
Segundo informações obtidas, as empresas que atualmente prestam o serviço à autarquia estiveram com o ministro e sua equipe, pelo menos três vezes nos meses que antecederam a licitação da nova contratação, sempre sem a presença de Wamburg.
Servidores informaram que Glauco não participou de nenhuma das reuniões que se prestavam à organização dos atos internos que antecederam o certame e que sequer despachou no processo em que o mesmo se consolidou (SEI 35041317116/2022-24), os mesmos foram conduzidos diretamente por Alessandro Stefanutto, sob orientação do Chefe de Gabinete do Ministro Lupi.
A licitação foi realizada, e as mesmas empresas foram vencedoras, mantendo-se exatamente o mesmo modelo de prestação de serviços que vige desde 2008. O 135 funciona com três centrais, cada uma delas custa próximo 5 milhões de reais aos cofres do INSS por mês.
Fontes informaram ainda que durante a realização do pregão eletrônico, representantes das empresas interessadas circulavam nos corredores do Ministério da Previdência Social. Essas mesmas fontes sinalizaram que a viagem de Lupi e parte de sua assessoria aos Estados Unidos (que sozinha custou mais de 60 mil reais – Lupi viajou com mais dois assessores, gastando cerca de 20 mil reais cada), ainda que correndo o risco de críticas da mídia e do Governo, se deu exatamente para que o ministro não estivesse no Brasil durante a realização do pregão, para protegê-lo.
A realização de todo o processo sem a participação do presidente e em descompasso com o que defendia, numa articulação que envolveu a diretoria e a chefia de gabinete de gabinete do ministro teria sido a gota d’água para o rompimento definitivo entre Lupi e Wamburg.
Os imóveis da Autarquia também seriam um outro tema de divergência entre Lupi e Glauco. Lupi vem realizando reuniões públicas e com autoridades nas quais promete a cessão de imóveis da Autarquia (caso, por exemplo do imóvel que é ocupado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em Campo Grande em que funciona Regimento de Cavalaria da PMERJ), tais promessas porém não foram cumpridas uma vez que os imóveis são patrimônio do Fundo do Regime Geral de Previdência Social e possuem restrições legais que impedem a cessão.
Ouvimos ainda que Glauco estaria desconfiado das operações de permuta, que envolvem imóveis de alto valor, e que abrem brechas para movimentos financeiros de agentes do mercado que poderiam, na visão do presidente, gerar prejuízos ao patrimônio do Fundo do RGPS.
Lupi teria escalado Stefanutto e o ex-presidente Guilherme para avançarem nas negociações em detrimento das dúvidas suscitadas pelo presidente.
Final do Enredo
Pressionado pela bancada do próprio PDT, criticado pelo governo pela falta de resultados principalmente quanto a redução da fila da perícia médica (órgão pertencente ao Ministério, mas externo ao INSS) e vendo sua equipe se degladiar, o Ministro Lupi teria feito a opção de substituir um técnico por um político profissional e experimentado para tentar acalmar os ânimos e sustentar-se a frente da pasta da previdência.
Segundo apuramos a escolha de Lupi não é recente, porém o mesmo via grandes dificuldades de substituir Glauco Wamburg, que mesmo interino, vem conseguindo bons resultados e reconhecimento à frente do Instituto. Realizando mutirões, ações motivacionais e estratégias de análise de benefícios, o presidente vem conseguindo a redução da fila do INSS (excluída a Perícia Médica)o reconhecimento de seus pares, e de tradicionais entendedores sobre a matéria da previdência como Carlos Gabas e o Sen. Paulo Paim.
Sem saída, ao que parece, Lupi anunciou a exoneração do presidente, apontando que seu sucessor, substituto interino, seria Alessandro Stefanutto, que é um quadro do terceiro escalão do PSB. Porém, para calar a saga de outras siglas partidárias para ocuparem o senhorio da Autarquia, Lupi teria escolhido um pedetista puro sangue, o ex-prefeito Rodrigo Neves, cujo nome estaria em consulta informal junto à Casa Civil, onde também espera publicação a exoneração de Wamburg.
Na semana que vem a celeuma deve ser definida.