Por Redação
BRASÍLIA – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se emocionou na tarde desta terça-feira (18) ao falar sobre a decisão do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), de se licenciar do mandato na Câmara dos Deputados para morar temporariamente nos Estados Unidos, para onde embarcou há pouco mais de 15 dias.
"Hoje está sendo um dia marcante para mim, dia do afastamento de um filho. Um filho que se afasta mais do que por um momento de patriotismo, se afasta para combater algo parecido com o nazifascismo que avança cada vez mais em nosso país. A liberdade não tem preço e é mais importante que a própria vida", afirmou.
Ao lado da ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, o ex-presidente visitou uma exposição sobre o Holocausto no Congresso Nacional. A ida dele ao Legislativo ocorreu pouco tempo depois de Eduardo anunciar, por meio de um vídeo publicado no Youtube, que se licenciaria do mandato e não retornaria ao Brasil. A licença do mandato ainda não foi oficializada, mas foi comunicado que será por tempo indeterminado.
O afastamento do mandato, segundo declarou Eduardo, se justifica para intensificar
as ações da oposição contra o Supremo Tribunal Federal (STF). O deputado também declarou que abdicará do mandato para impedir o recolhimento do próprio passaporte — alvo de notícia-crime protocolada pela bancada do PT na Procuradoria-Geral da República (PGR).
“Irei me licenciar sem remuneração para que eu possa me dedicar integralmente e buscar as devidas sanções aos violadores de direitos humanos. Aqui, [nos EUA] poderei buscar as justas punições que Alexandre de Moraes e a sua Gestapo da Polícia Federal merecem”, afirmou Eduardo Bolsonaro.
Ele citou o pedido de deputados do PT para apreensão do passaporte dele, enviado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para manifestação da PGR.
"Se Alexandre de Moraes quer apreender o meu passaporte ou até mesmo me prender para que eu não possa mais denunciar os seus crimes nos Estados Unidos, então é justamente aqui que eu vou ficar".
"Alexandre, a minha meta de vida será fazer você pagar por toda a sua crueldade com pessoas inocentes. Estarei focado integralmente nesse objetivo. Só retornarei [ao Brasil] quando você estiver devidamente punido pelos seus crimes, pelo seu abuso de autoridade", frisou.
O deputado falou sobre seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), alvo de denúncia da Procuradoria por tentativa de golpe de Estado que será julgada pela Primeira Turma do STF a partir da próxima terça-feira (25). "Não tenho dúvida que o plano dos nossos inimigos é encarcerá-lo para assassiná-lo na prisão ou deixá-lo lá perpetuamente".
Atuação internacional
Com Jair Bolsonaro inelegível por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e com o passaporte retido por decisão do Supremo, Eduardo Bolsonaro se tornou o principal representante do pai entre líderes e grupos da direita nos Estados Unidos, na América do Sul e na Europa.
O parlamentar transita entre lideranças de direita e mantém diálogo com Steve Bannon, estrategista de Donald Trump, e o argentino Javier Milei. É também Eduardo quem articula a edição brasileira do CPAC, uma conferência internacional que reúne figuras do espectro mais conservador.
Além disso, ele lidera uma frente da oposição brasileira em território norte-americano em busca de apoio para Jair Bolsonaro contra as ações que ele enfrenta no Supremo. Internamente no partido, Eduardo Bolsonaro é até mesmo cotado para substituir o pai na eleição de 2026.
Comissão de Relações Exteriores
Por esse protagonismo, ele era o principal cotado para assumir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Por ter a maior bancada da Casa, o PL é quem indica o presidente do colegiado. Para tentar reverter, isso o líder do PT, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), apresentou uma ofensiva.
Os deputados do PT acionaram o Conselho de Ética da Câmara e a PGR contra o parlamentar, acusando-o de constranger o STF e atrapalhar as investigações do ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito da tentativa de golpe de Estado.
Lindbergh Farias ainda pediu que a PGR solicite ao STF o recolhimento do passaporte do deputado. Em retaliação, o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), apresentou um projeto para proibir a aplicação de medidas cautelares a integrantes do Congresso Nacional.
Com a decisão de Eduardo Bolsonaro de permanecer nos Estados Unidos e se licenciar do mandato, o líder da oposição, Zucco (PL-RS), é quem vai assumir o comando do colegiado. O colégio de líderes se reúne nesta terça-feira para definir o destino das presidências das comissões na Câmara.
Por Lara Alves - O tempo