Por Redação
A Leucena é uma planta exótica que dá trabalho aos ambientalistas por ser uma espécie invasora muito comum em áreas de vegetação que precisam ser preservadas. Na Praia de Camboinhas, os integrantes do projeto de Restauração Ecológica e Inclusão Social, desenvolvido pela Prefeitura de Niterói, não encontraram um cenário diferente.
Antes de iniciar o plantio de novas mudas, tiveram que retirar cerca de 20 toneladas da planta, num trabalho de limpeza que durou semanas. Ao todo cerca de 203,1 hectares da Mata Atlântica em diversas espécies, serão restaurados em restingas, ilhas e diversas áreas protegidas da cidade. O programa tem investimento de R$ 2,9 milhões, financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
As leucenas seriam descartadas se a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade (SMARHS) não tivesse decidido implantar iniciativas da economia circular ao projeto. Em vez de serem jogadas no lixo, as leucenas retiradas da restinga passaram a ser trituradas e transformadas em adubo usado no plantio das mudas utilizadas na restauração ecológica.
A economia circular consiste em estratégias para que o processo produtivo seja regenerativo e restaurativo. E uma das suas premissas básicas é: ao invés de descartar, os resíduos são reutilizados, tornando o processo ainda mais sustentável.
A Companhia de Limpeza de Niterói (Clin), parceira do projeto, disponibiliza o caminhão-triturador. Por ser um resíduo seco, pode ser imediatamente utilizado como adubo no plantio.
“O manejo sustentável da vegetação invasora está sendo realizado através da sua compostagem e reutilização nos plantios. A inovação, além de tratar o que seria um resíduo e poderia gerar impactos em outros ambientes, devolve os nutrientes para o solo. Isso não só reduz a necessidade de adubação, como também os custos do projeto e aumenta o sucesso de pega das mudas plantadas. O experimento terá continuidade e tem se mostrado promissor”, explica o subsecretário de Sustentabilidade da SMARHS, Allan Cruz, que coordena o projeto de restauração da restinga.
Cactos para barrar quadriciclos
O cacto do gênero Opuntia, também invasor, foi encontrado na área de restauração em Camboinhas. Novamente foi utilizado o conceito de Economia Circular, incorporando a ciclagem de nutrientes. Foi realizado o manejo dos invasores como barreira física para fechar a área e proteger a vegetação dos quadriciclos que costumavam circular pelo local. Posteriormente, também será usado para compostagem e manutenção dos nutrientes da restinga.
O projeto de restauração da restinga
A restinga de Camboinhas foi escolhida para retomada do projeto de Restauração Ecológica e Inclusão Social, que foi interrompido no ano passado em função da pandemia. Desde março, 12 voluntários trabalham no local. Até agora, cerca de 400 mudas de espécies de restinga já foram plantadas. Também já foram colocados mourões para demarcar a área a ser restaurada.
“Esse projeto tem uma grande importância para o nosso município, porque contempla o reflorestamento de áreas essenciais para os ecossistemas em torno da Mata Atlântica. O trabalho dos jovens voluntários é essencial para o sucesso do programa, ao mesmo tempo que promovemos a inclusão social e a consciência ambiental das comunidades envolvidas. Escolhemos a área de Camboinhas para retomar o projeto e já estamos avançando na restauração da restinga”, explica o secretário de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade, Rafael Robertson.
Esta semana, o gestor da Reserva Extrativista Marinha de Itaipu (Resex), André Jório, visitou o local ao lado do secretário para acompanhar o desenvolvimento do projeto. A restinga fica no entorno da área de amortecimento da Resex.
“Estou muito satisfeito pela Resex ser parceira deste projeto da Secretaria do Meio Ambiente de Niterói. Também participamos do processo seletivo dos jovens voluntários que estão colaborando para restaurar essa restinga e tendo a oportunidade de vivenciar o contato com a natureza. Me sinto orgulhoso de ver os resultados positivos não só para a área do meio ambiente, mas para toda a população de Niterói”, disse Jório.
O programa tem investimento de R$ 2,9 milhões, financiados pelo BNDES. O objetivo é a restauração ecológica de 203,1 hectares de diferentes fitofisionomias da Mata Atlântica, contemplando a recuperação de 30,37 hectares de vegetação nas ilhas Pai, Mãe, Menina e do Veado, inseridas no Parque Natural Municipal de Niterói (Parnit) e no Parque Estadual da Serra da Tiririca (Peset); 65,30 hectares de manguezal no entorno da Laguna de Itaipu e Piratininga, inseridos parcialmente no Peset e no setor lagunar do Parnit; 21,16 hectares de vegetação de restinga em cinco praias do município (Itacoatiara, Camboinhas, Piratininga, Itaipu e Charitas); e 86,28 hectares de vegetação o Morro da Viração, em área inserida no Parnit.
Também são parceiros do projeto o Laboratório Horto-Viveiro da UFF, Secretaria de Conservação de Niterói e Parque Estadual da Serra da Tiririca (Peset).