Servidores de duas gerências do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgaram hoje uma carta aberta em que se declaram vítimas de “retaliação e assédio moral” em função de críticas expressadas sobre atos da gestão de Marcio Pochmann na presidência do órgão.
Os técnicos das gerências de Sistematização de Conteúdos Informacionais (GECOI) e de Editoração (GEDI) relatam terem sido transferidos de um prédio da região do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, para um antigo parque gráfico do IBGE em Parada de Lucas, na Avenida Brasil, vizinho a comunidades que formam o Complexo de Israel.
Os trabalhadores creem que a mudança tenha sido uma retaliação a denúncias públicas feitas pelos técnicos, como a divulgação em janeiro de uma nota de repúdio pela decisão da direção de manter um prefácio assinado pelo governo do Estado de Pernambuco – que poderia caracterizar “propaganda política” e “campanha eleitoral” – em uma publicação oficial do instituto, contrariando parecer da área técnica.
Rusgas no instituto
Servidores do IBGE acusam Pochmann de assédio e retaliação por críticas à gestão
Técnicos de gerências teriam sido transferidos de prédio.
Servidores de duas gerências do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgaram hoje uma carta aberta em que se declaram vítimas de “retaliação e assédio moral” em função de críticas expressadas sobre atos da gestão de Marcio Pochmann na presidência do órgão.Os técnicos das gerências de Sistematização de Conteúdos Informacionais (GECOI) e de Editoração (GEDI) relatam terem sido transferidos de um prédio da região do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, para um antigo parque gráfico do IBGE em Parada de Lucas, na Avenida Brasil, vizinho a comunidades que formam o Complexo de Israel.
Os trabalhadores creem que a mudança tenha sido uma retaliação a denúncias públicas feitas pelos técnicos, como a divulgação em janeiro de uma nota de repúdio pela decisão da direção de manter um prefácio assinado pelo governo do Estado de Pernambuco – que poderia caracterizar “propaganda política” e “campanha eleitoral” – em uma publicação oficial do instituto, contrariando parecer da área técnica.
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As gerências argumentam que atuam no atual edifício desde a década de 1990, responsáveis por atividades de documentação e editoração, com procedimentos e tratativas com demais unidades organizacionais demandantes de forma estritamente digital.“Sua mudança para o Complexo de Parada de Lucas, além de desprovida de embasamento lógico ou técnico, não guarda nenhum compromisso com a realidade do trabalho exercido por essas unidades”, dizem os servidores, em carta aberta.
Os trabalhadores defendem que a mudança das duas gerências para Parada de Lucas “constitui retaliação e assédio moral aos seus servidores”, em razão de posicionamentos técnicos que contrariavam decisões da atual gestão Pochmann.
Os técnicos relembram que, em janeiro de 2025, contestaram um comunicado da Presidência do IBGE que classificava como “desinformação e mentiras as críticas tecidas pelo corpo técnico da Casa sobre a criação da Fundação IBGE+”. A criação por Pochmann da fundação de direito privado acabou suspensa temporariamente, após intensa polêmica.
“Ainda em janeiro de 2025, alertamos sobre os riscos decorrentes da quebra do princípio da impessoalidade e da perda de autonomia técnica no trabalho, em virtude da inclusão de um prefácio com conotação política no periódico Brasil em Números 2024, apesar de as considerações técnicas expressadas por ambas as Gerências serem absolutamente contrárias a tal procedimento”, acrescentou a carta.
Os servidores se referem à 32ª edição do periódico “Brasil em Números 2024”, divulgado em 28 de janeiro, no Recife, em Pernambuco. Um dos prefácios trazia o nome de Raquel Lyra, à época filiada ao PSDB/PE, governadora de Pernambuco, mencionando ações e prioridades de seu governo no atendimento à população local. O texto incluiu citações a diferentes programas de sua gestão à frente do governo do Estado.
“Em fevereiro de 2025, refutamos uma nota divulgada na Câmara dos Deputados em que fomos rotulados como pessoas que utilizam ataques e acusações infundadas contra o Presidente do IBGE em razão de interesses que têm sido contrariados por mudanças promovidas pela nova administração”, mencionou também a nova carta.
A executiva nacional do sindicato de servidores do IBGE, a Assibge-SN, informa que está acompanhando a nova denúncia dos trabalhadores. O núcleo regional do sindicato fará uma assembleia na semana que vem para tratar do assunto.
“Recebemos a denúncia hoje. A princípio parece plausível, pois de fato são gerências que se manifestaram contra decisões da direção, e a transferência de local de trabalho parece desprovida de qualquer justificativa razoável”, declarou Bruno Perez, diretor da executiva nacional da Assibge-SN.
O texto divulgado nesta quinta-feira tem a assinatura de 11 servidores.
“Considerando o exposto, reiteramos o entendimento de que a GECOI e a GEDI estão sob represália em virtude de nossos posicionamentos técnicos. Tal mudança, além de não objetivar o aprimoramento dos fluxos de trabalho, arrisca expor os servidores dessas Gerências a situações cotidianas de inquestionável periculosidade, o que certamente afetará variados fatores de desempenho profissional e institucional, em claro conflito com o Princípio da Supremacia do Interesse Público, segundo o qual a Administração Pública não deve se curvar a interesses privados, como os demonstrados na inflexibilidade irracionalmente exercida pela Coordenação-Geral do CDDI (Centro de Documentação e Disseminação de Informações)”, encerram os trabalhadores, no texto.
Procurada pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a direção do IBGE não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.
RETALIAÇÃO E ASSÉDIO MORAL A SERVIDORES
A atual Coordenação-Geral do Centro de Documentação e Disseminação de Informações – CDDI decidiu a mudança da Gerência de Sistematização de Conteúdos Informacionais - GECOI e da Gerência de Editoração - GEDI para o Complexo de Parada de Lucas, totalizando 12 servidores efetivos, sob o insólito argumento de que precisamos nos situar junto aos serviços gráficos ali concentrados. Considerando o personalismo instaurado no IBGE e que já motivou, inclusive, pedidos de exoneração dos titulares da Diretoria de Pesquisas - DPE e da Diretoria de Geociências - DGC e de seus respectivos substitutos, concluímos que ambas as unidades se tornaram objetos de retaliação e assédio moral.
Fundamentação da denúncia
A GECOI é responsável pelas atividades de documentação, enquanto a GEDI, pelas atividades de editoração, e estão instaladas no Complexo Canabarro desde a década de 1990, quando da criação do CDDI. Sua mudança para o Complexo de Parada de Lucas, além de desprovida de embasamento lógico ou técnico, não guarda nenhum compromisso com a realidade do trabalho exercido por essas unidades.
No caso da GECOI, as três servidoras atuam como bibliotecárias documentalistas, com atribuições relacionadas à sistematização de conteúdos informacionais. No caso da GEDI, os nove servidores atuam, essencialmente, como produtores editoriais, designers e diagramadores, cujas atribuições abarcam a edição de livros, informativos e periódicos, a partir dos conteúdos sistematizados.Todos os procedimentos realizados por essas Gerências e as suas tratativas com as unidades organizacionais demandantes, em especial a DPE e a DGC, são estritamente digitais e contemplam, ademais, a Gerência de Publicação e Gestão de Conteúdo - GEPUC, também do CDDI, para a qual são endereçados os produtos finalizados em formato eletrônico, bem como os textos, em linguagem documentária, com vistas à divulgação desses produtos no portal do IBGE.
Os servidores vinculados ao CDDI lotados no Complexo de Parada de Lucas, por sua vez, atuam, essencialmente, como profissionais gráficos. Apesar de sua reconhecida expertise na área, nunca compartilhamos procedimentos que justificassem ou exigissem a proximidade física da GECOI e da GEDI com os serviços gráficos para a consecução de quaisquer agendas.Dessa forma, não faz sentido que essa logística seja cogitada, agora, sobretudo quando se leva em conta que o Complexo de Parada de Lucas agora, sobretudo quando se leva em conta que o Complexo de Parada de Lucas, Vigário Geral, entre outras do entorno, justamente pelos riscos sofridos pelos servidores ali remanescentes. Tal cenário não se tornou promissor – muito ao contrário! Essas comunidades permanecem sob constantes embates entre narcotraficantes, milicianos e policiais, todos fortemente armados, e são conflagradas por violentas disputas de poder e de territórios, conforme amplamente noticiado pela mídia. Em face dessa realidade, portanto, só podemos concluir que a mudança das duas Gerências para o Complexo de Parada de Lucas constitui retaliação e assédio moral aos seus servidores, em razão dos seguintes posicionamentos técnicos:
Entre abril e maio de 2024, questionamos a redação do documento proposto pela relatoria do Grupo 9, no âmbito do Diálogos 2, uma vez que a maioria dos integrantes não participara das discussões relacionadas ao tema sob sua responsabilidade, e o texto recebido para conhecimento, além de dúbio ou intencionalmente impreciso, continha vieses altamente discriminatórios e hierarquizantes para uma Diretoria de Comunicação concebida em substituição ao CDDI, tanto em relação ao pessoal de nível médio, flagrantemente descartado na nova configuração, quanto em relação à área de formação do pessoal de nível superior, esse seletivamente pontuado no referido documento.
Em janeiro de 2025, contestamos um Comunicado da Presidência do IBGE que, dirigindo-se à sociedade, caracterizou como desinformação e mentiras as críticas tecidas pelo corpo técnico todas as avaliações internas se mostrassem absolutamente procedentes ao final, o que ensejou, como é de conhecimento geral, a suspensão de tais tratativas.
Ainda em janeiro de 2025, alertamos sobre os riscos decorrentes da quebra do princípio da impessoalidade e da perda de autonomia técnica no trabalho, em virtude da inclusão de um prefácio com conotação política no periódico Brasil em Números 2024, apesar de as considerações técnicas expressadas por ambas as Gerências a serem absolutamente contrárias a tal procedimento.
Em fevereiro de 2025, refutamos uma nota divulgada na Câmara dos Deputados em que fomos rotulados como pessoas que utilizam ataques e acusações infundadas contra o Presidente do IBGE em razão de interesses que têm sido contrariados por mudanças promovidas pela nova administração.
A despeito de todas as ponderações técnicas já formuladas pela GECOI e pela GEDI, a decisão de sua mudança física para o Complexo de Parada de Lucas se mantém até o momento, conforme nos foi comunicado hoje, presencialmente, pela Coordenação de Produção Editorial e Gráfica - COPEG, oportunidade em que também fomos informados do agendamento de uma reunião solicitada pelo Núcleo Canabarro da Assibge-SN com a Coordenação-Geral do CDDI, a respeito desse tema, a se realizar no dia31 de março, às 8:00.
Considerando o exposto, reiteramos o entendimento de que a GECOI e a GEDI estão sob represália em virtude de nossos posicionamentos técnicos. Tal mudança, além de não objetivar o aprimoramento dos fluxos de trabalho, arrisca expor os servidores dessas Gerências a situações cotidianas de inquestionável periculosidade, o que certamente afetará variados fatores de desempenho profissional e institucional, em claro conflito com o Princípio da Supremacia do Interesse Público, segundo o qual a Administração Pública não deve se curvar a interesses privados, como os demonstrados na inflexibilidade irracionalmente exercida pela Coordenação-Geral do CDDI.Ana Raquel Gomes da Silva
Lioara Mandoju
Solange de Oliveira Santos
Gerência de Sistematização de
Conteúdos Informacionais - GECOI
Aline Pedro Carneiro Damacena
Fabio Muniz de Moura
Fernanda Maciel Jardim
Leonardo Ferreira Martins
Luiz Paulo do Nascimento
Marisa Sigolo Mendonça Barcelos
Márcia do Rosário Brauns
Solange Maria Mello de Oliveira
Gerência de Editoração - GEDI
Autor da Matéria: Estadão
Servidores do IBGE acusam Pochmann de assédio e retaliação por críticas à gestão

O novo presidente do Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, durante sua cerimônia de posse - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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