Sabe quando você passa mal e precisa colocar pra fora tudo que está dentro de você produzindo desconforto? Assim nos sentimos diante do que estamos vivendo, em meio ao cenário que se configurou com a covid-19, sendo protagonista de nossas vidas. Tentamos vomitar, mas essa doença insiste em se fazer presente no mundo.
A educação brasileira, já tão fragilizada ao longo da sua história, se vê limitada a envios de materiais pelo zap, desejosos de visualização e acompanhamento, sonhando um retorno nesse mar de incertezas.
Professores desbravadores têm se aventurado na criação de vídeos para promover uma atmosfera menos enrijecida a que estamos vivendo, mas nem todos temos esse desprendimento na frente das câmeras e essas proezas não são inerentes a totalidade desta classe trabalhadora.
Mesmo assim, observamos que cada um, a sua maneira, encontrou uma forma de estabelecer o contato e procurar resgatar o vínculo com seus pupilos e isso tem muito valor.
Seja de qual maneira for e qual seja nosso nível tecnológico, barreiras foram ultrapassadas e essa brusca mudança de paradigma analógico para o digital dói na alma, daquele que conhece a alegria de ao se dirigir à sala de aula, se vê cercado por alunos famintos de atenção e carinho, esfuziantes, falando todos ao mesmo tempo.
Saudades das centenas de abraços que não nos deixavam atravessar o pátio em linha reta, pois a cada passo tínhamos um afago a trocar. A sociedade preocupa-se com as perdas das crianças, mas eu pergunto se já se perguntaram quanto as perdas emocionais dos profissionais da educação? É certo que as crianças não sabem lidar com as suas emoções, mas nossa inteligência cognitiva, bem como nossos diplomas conquistados não nos prepararam para o momento vigente e não responde pela área do sensível que está em cada um de nós.
A criança está em formação e pode ressignificar de forma espontânea tudo o que estamos vivendo, inclusive reescrever positivamente o alcance do vírus, para dentro do mundo virtual o qual nasceram, mas os adultos que internalizaram a escola, sua sala de aula como ambiente acolhedor, sua segunda casa, onde muitos trazem pertences pessoais, regados de afeto sentem muito mais intensamente essa "perda", pois não se trata do espaço físico, mas das lembranças e de tudo que se construiu desde então. Nós adultos conseguimos dimensionar que nossa escola nunca mais será a mesma e isso impacta fortemente nosso emocional.
Vendo chegar o final do ano, observo um grupo convalescente de suas dores e perdas e ainda buscando alternativas de alcançar suas crianças, mas o que mais me dói mesmo, é ouvir o professor dizer com entusiasmo que fez aquela aula, ou preparou tal atividade e somente um quantitativo mínimo viu ou respondeu. Difícil ouvir, difícil estimular esse docente a persistir, mas no contraponto, quando vimos uma foto, mensagem, desenho, ou mesmo um vídeo feito pela mãe da criança, realizando uma atividade, entendemos o porquê somos professores, é porque vale a pena, todo empenho, mesmo que seja por um estudante!
Parabenizamos aos pais, mães e responsáveis, heróis que até hoje estão conseguindo estimular seus filhos e não repreendo os que pararam no meio do caminho, pois essa trajetória é pesada e repleta de pedras e espinhos. Agradecemos a todos que de alguma forma se dedicaram.
Nós docentes, sabemos lidar com a escassez de recursos e criamos o tudo partindo do nada, aprendemos a mexer nos dispositivos eletrônicos que nos aproximam, mas a única coisa que não aprendemos é abraçar computadores no lugar dos nossos meninos e meninas. Acho que nessa matéria tiramos nota zero! #saudade de sala de aula.
Persistir sempre, desistir jamais!
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