A importância dos probióticos para a manutenção da saúde

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Por professor Aderbal Sabrá e professora Selma Sabrá, especial para O FLUMINENSE

Já é de conhecimento geral a quantidade de bactérias que toma conta do nosso tubo digestivo. Na verdade, há mais bactérias no nosso trato digestivo do que células eucarióticas em nosso corpo humano. Por centímetro cúbico, ou por unidade de colônia fecal, têm-se 10 elevado a 14 bactérias. Não há como conhecer efetivamente toda essa quantidade de bactérias que toma conta do tubo digestivo e não se conseguiu até hoje isolar todas elas. Conhecem-se do seu todo 80% a 85% e em serviços muito especializados, 90%. E é impossível trabalhar com esses números em termos de bactérias.

ATENÇÃO: há mais bactérias no nosso trato digestivo do que células em nosso corpo humano

Este texto trata de um grupo dessas bactérias que vivem de forma saprófita no organismo humano. Ilya Ilyich Metchnikoff, no início do século passado, ganhou o prêmio Nobel de Medicina exatamente por usar o que ele chamava de "culturas bacterianas que fazem bem à saúde". Essas bactérias, especificamente os lactobacilos e as bifidobactérias, são os principais probióticos presentes na flora entérica e exercem um real papel na promoção de funções benéficas, fato comprovado por estudos experimentais e ensaios clínicos. As bactérias trabalham dia e noite e conferem benefícios ao hospedeiro, que cada vez são mais estudados. Portanto o objetivo deste texto é se aprofundar nesse estudo e mostrar por que cada vez mais os probióticos são prescritos em todo o mundo.

Hoje em dia, de preferência, os estudos são baseados em evidência e estudos experimentais e ensaios clínicos mostram a importância dos probióticos. De acordo com definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2002, a mais utilizada internacionalmente, os probióticos são "microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro".

ATENÇÃO: os probióticos são "microrganismos vivos" que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do homem.

Como já citado, há muita dificuldade em se conhecer a microbiota intestinal devido à alta concentração por unidade de colônia fecal. O ser humano nasce sem bactérias e isso é importante para o entendimento da remodelação do seu sistema imune. Dependemos de flora bacteriana, para nossa evolução imunológica para a normalidade, por isso se está trabalhando a favor da "contaminação do recém-nascido".

O recém-nascido precisa das bactérias do canal de parto, da flora saprófita materna, para começar a sua colonização entérica, que vai permitir a ativação do seu sistema imune, indispensável para o bloqueio da tendência à alergia, como todos nós nascemos, até que aos 8 meses chegamos ao estado de sermos "imunologicamente normais".

Atenção: O recém-nascido precisa das bactérias do canal de parto

Uma das coisas que mais se estuda hoje é a medicina quântica em relação à bactéria. Se existem mais bactérias do que células, não é à toa. Para viver elas precisam de calorias. Portanto sua presença resulta sempre em grande consumo de energia, a qual é trocada com o indivíduo. Evidentemente, quando a bactéria consome muito, o indivíduo emagrece; quando fermenta muito, o indivíduo tem excesso de fermentação e quando
ela putrefaz muito o alimento, ocorre a dispepsia fermentativa.

Quais são as ações benéficas dos probióticos?

Os probióticos são importantes na imunomodulação. Hoje, por exemplo, quando se tem um paciente com deficiência de células da parede intestinal, sabemos que só os fatores tróficos que provem da luz intestinal são capazes de prover estas células e que os probióticos são fundamentais nesta recuperação. Eles participam, então, diretamente da produção dos fatores de recuperação.

ATENÇÃO: Os probióticos são importantes na maturação imunológica.

Várias doenças do aparelho digestivo mostram que a ação do probiótico é benéfica (estudos de literatura), demonstrando possuir importante papel, antagonizando-se aos mecanismos de produção de diarreia. Sabe-se que um episódio de diarreia aguda normalmente dura cinco a seis dias. Utilizando-se um probiótico reduz-se esse tempo para dois ou três dias. Não se consegue estancar ou curar a diarreia, mas se o consumo de líquido é reduzido, o consumo energético da flora bacteriana diminui com o uso do probiótico.

ATENÇÃO: falta de colonização ou a colonização anômala pode levar a inflamação da parede intestinal.

As ações benéficas no período pós-natal, mesmo fora da doença, são de grande importância no tubo digestivo. Por exemplo, a falta de colonização ou a colonização anômala pode levar a inflamação da parede intestinal, então as bactérias são benéficas também no período neonatal. Além disso, existem aplicações presentes e futuras que, por nível de evidência, tem-se a obrigação de continuar estudando.

ATENÇÃO: Além de demonstrar participação na imunomodulação, pode-se afirmar que os probióticos exercem ação benéfica:

• antagônica contra os mecanismos de produção de diarreia;

• no período pós-natal na prevenção da inflamação entérica do recém nascido;

• nos tubos digestório e extradigestório, como essenciais na imunomodulação.

No tubo digestório, os probióticos apresentam como benefício a redução da atividade das enzimas azorredutase e nitrorredutase, além das beta-glicuronidases e beta-glicosidases, produzidas pela flora colônica. Estas enzimas, potencialmente carcinogênicas e presentes habitualmente nas fezes de indivíduos normais, têm sua atividade suprimida de forma significativa
no bolo fecal pelos probióticos.

Outra ação benéfica demonstrada pelo probióticos é a adesão às mucosas oral e intestinal. A propriedade de adesão à mucosa oral e intestinal facilita o contato do probiótico com a intimidade do sistema imune do hospedeiro, prolongando também seu tempo de ação. Além disso, o espaço ocupado pela adesão do probiótico limita o espaço livre para a adesão de outros patógenos à mucosa digestiva, limitando sua capacidade de colonizar a mucosa do trato digestivo.

ATENÇÃO: a presença dos probióticos na luz intestinal inibe a presença de bactérias que causam doenças.

Os probióticos são capazes de inibir a colonização intestinal por outros patógenos e desalojar cepas já aderidas, competindo com estas e outras cepas por sítios de adesão e por consumo de nutrientes. Além disso, protegem a microbiota intestinal quando do uso de antibióticos, corrigindo as disbioses e mantendo a flora nativa.

ATENÇÃO: Lactobacilus sp no estõmago nos protegem do H pilory

Há trabalhos muito interessantes sobre a ação dos probióticos na competição pelos receptores de H. pylori no trato digestivo. Já está comprovado que o indivíduo com baixa colonização no trato digestivo tem mais tendência a desenvolver doença por H. pylori. Então, utilizando-se um probiótico, ele vai competir nos receptores de H. pylori e evitar a gastropatia. Em 2004 um interessante trabalho publicado, mostrando essa competição, demonstra a necessidade de se ter uma bactéria no estômago para competir com o H. pylori e evitar a gastropatia deste. O probiótico faz este papel. O principal é o Lactobacilus sp, um dos mais importantes entre os probióticos.

ATENÇÃO: A infecção nosocomial também pode ser evitada com a presença de probiótico.

A infecção nosocomial também pode ser evitada com a presença de probiótico. Existem bons trabalhos mostrando a importância e a facilidade com que a presença de uma flora saprófita pode evitar a exacerbação de uma bactéria patogênica.

ATENÇÃO: os probióticos nas protegem da intolerância à lactose e nas diarreias.

São bastante antigos na literatura os relatos de que o probiótico estimula a lactase e assim pode aliviar a intolerância à lactose,

Mas é na diarreia infecciosa que os probióticos têm mais larga utilização, usando as suas propriedades de competir com a bactéria agressora, ocupar os receptores e diminuir o tempo de produção de diarreia. Há uma quantidade avassaladora de trabalhos na literatura mostrando a importância do probiótico na diarreia infecciosa.

Outra ação incontestável do probiótico é na diarreia do Clostridium difficile. A diferença é tão grande, que hoje, no tratamento da colite pseudomembranosa com metronidazol ou drogas mais avançadas, dependendo da complexidade do Clostridium, só se evita recidiva com probiótico. E isso porque o probiótico entra no trato digestivo e ocupa o espaço bacteriano, não permitindo o crescimento de novas cepas de Clostridium. Essa visão do sistema de equilíbrio de flora é muito importante, e, sempre que se usa o probiótico, entende-se que ele vai ocupar um espaço, sendo essa ocupação fundamental no tratamento da colite pseudomembranosa.

Quanto à diarreia aguda, não se poderia deixar de mencionar o estudo da Cochrane, que são as revisões multissistêmicas mostrando claramente que há um efeito benéfico do probiótico nesta doença. Isso é uma realidade que leva a pensar quando se está diante de um paciente de baixo nível socioeconômico, precisando de terapia de reidratação oral a TRO.

A TRO é fundamental em qualquer circunstância, mas às vezes o paciente não tem o recurso do uso do probiótico, que encurtaria muito o tempo de diarreia e de reidratação, encurtando também o tempo para a recomposição do paciente em perda hidroeletrolítica. Portanto, atualmente, não se pode ignorar a importância dos probióticos na diarreia aguda.

ATENÇÃO: também na constipação os probióticos são valiosos.

Na constipação acontece o mesmo princípio da competição na motilidade. Os probióticos contêm enzimas importantes em sua constituição, que promovem dentro do intestino grosso, a melhor digestão de fibras, permitindo maior agregação de água ao bolo fecal. Essa propriedade também está presente nos probióticos e pode ser utilizada com esse fim na constipação.

ATENÇÃO: É frequente nos ambientes de "vala aberta", na extrema pobreza, a contaminação intestinal

A contaminação do intestino delgado é tratada dentro do mesmo princípio de competição. Jogar dentro do intestino uma flora que seja saprófita, de competição, será aliviar a contaminação, um grave problema brasileiro. A contaminação do intestino delgado é um problema de saúde pública em todo o Terceiro Mundo, onde as crianças vivem num meio contaminado. Consequentemente, sendo esta uma realidade no Brasil, o probiótico tem sido usado em todas as circunstâncias em que existe a
possibilidade deste diagnóstico.

É muito simples contaminar o delgado. É sabido que o número de bactérias no intestino delgado não deve passar de 103, então, quando se tem uma criança supostamente com uma clínica de contaminação, passa-se uma sonda, aspira-se e conta-se o número de colônias. Se as unidades de colônias fecais ultrapassarem 103, há contaminação. A contaminação é muito frequente em ambulatórios do Sistema Único de Saúde (SUS), ultrapassando 50% das crianças que frequentam o serviço, muitas das quais apresentam abdome distendido e flatulência. Sempre que uma criança de baixo nível socioeconômico apresenta este tipo de queixa, há que se pensar, entre outras coisas, em contaminação, para cujo tratamento o probiótico tem se mostrado muito
valioso.

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