Por Redação
A Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDS Rio) em conjunto com a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) inaugura nesta quarta-feira (22), no Centro Provisório de atendimento (CPA IV), localizado na Lapa, a biblioteca Professora Laura de Vison – ela chegou a ser presa da década de 70 por “ser gay”. Laura nasceu em 7 de setembro de 1939. O hotel social, inaugurado no mês passado, abriga pessoas LGBTs em situação de rua e vulnerabilidade sócio-econômica. Muitas delas foram fortemente afetadas pela crise sanitária da covid-19 e tiveram suas vidas impactadas pela pandemia, como resultado de agressões e violações no ambiente doméstico.
A ideia de disponibilizar livros para os abrigados partiu das assistentes sociais e funcionários do CPA IV, como forma de incentivar o conhecimento através da leitura, e despertar em cada um deles, a necessidade de usar a educação como objeto de transformação para construção do futuro.
"É uma iniciativa louvável que reafirma a qualidade do serviço público quando existem pessoas engajadas em usar os instrumentos disponibilizadas pelo Estado como meio transformador. Como professor, reafirmo que não existe transformação social sem passar pela educação, que abre horizontes para inúmeras oportunidades e promove cidadania", afirma o Coordenador Especial da Diversidade Sexual, Nélio Georgini.
Obrigada a usar a identidade masculina devido ao preconceito da época, Laura de Vison estudou na Faculdade Nacional de Filosofia com licenciatura em filosofia, psicologia e história. Enfrentando a sociedade no período da ditadura militar, por muitos anos, ela deu aulas comportadíssima, usava os cabelos presos, roupas masculinas, e uma cinta de compressão para esconder os seios.
"A inclusão do público LGBTQI+ não passa apenas pelo acolhimento que temos dado no CPA IV. É importante prover esta parcela da população de alimento para o intelecto, abrir as portas para o conhecimento e dotá-los de capacidade para entender o mundo que os cerca por outras lentes. E a literatura pode cumprir perfeitamente este papel. Ter uma biblioteca aqui neste hotel é fundamental para cumprir a nossa meta básica que é a reinserção deste público na sociedade", conta Tia Ju, secretária de Assistência Social e Direitos Humanos.
Como atriz, por sua atuação em Os Bigodes da Aranha, em 1991, Vison foi agraciada com a Medalha de Ouro no Festival du Court-Métrage de Bruxelles, na Bélgica. Recebeu ainda o Candango de Ouro, em Brasília, e ao Sol de Prata, no Fest Rio, na categoria de melhor ator em Mamãe Parabólica.
Laura também fazia shows na cena LGBT das noites carioca, era aplaudida por turistas, antropólogos, sociólogos, atores, cantores e personalidades internacionais, como o estilista Jean Paul Gaultier. Em uma passagem pelo Brasil, quando soube que Laura lecionava história e moral e cívica, Gaultier, pasmo, declarou à imprensa: “Interessante essa faceta dupla, isso não seria permitido pela moral francesa”.
Após 18 anos, como “professor” no Colégio Cenecista Capitão Lemos Cunha, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, perdeu o emprego porque respondeu às perguntas dos alunos sobre a transmissão sexual da AIDS e por admitir ser homossexual.
A Biblioteca em homenagem a Laura de Vison vai contar com um acervo de 200 livros de literatura Brasileira . O hotel atualmente abriga 30 pessoas, disponibiliza 4 refeições por dia , e busca inserção e oportunidades no mercado para que essas pessoas possam reconstruir suas vidas.
A superintendente do programa Rio Sem Homofobia será curadora do espaço.
"A leitura amplia nosso olhar e faz a gente viajar sem sair do lugar e aprender sempre. O futuro passa pela educação. O saber liberta e faz cada um ter a consciência do seu valor. Fico lisongeada por ser madrinha desse local de saber que leva o nome da professora Laura de Vison. Uma felicidade que não cabe no peito", ressalta Caroline Caldas, que é a primeira mulher lésbica a assumir o programa Rio Sem Homofobia.