Um misto de chef confeiteiro, motoqueiro e pirata, Eric Jourdan definitivamente não passa despercebido. Após 25 anos dedicados à exigente cozinha parisiense, o cozinheiro de 53 anos trocou o frio europeu pelo clima tropical da orla de Charitas, onde mora desde 2007, e, há um ano, estaciona sua imponente motocicleta para vender suas iguarias.
Ele se considera um “artesão francês”, pois seu trabalho transita entre a arte e a gastronomia tanto a nível de criação quanto de produção. Porém, segundo ele, a receita para seu sucesso está na combinação de algumas ações e adaptações. Primeiro, ele percebeu que, no Brasil, a forma mais eficaz de uma confeitaria comercial é fazer produtos “bons, bonitos e não tão caros”.
“A cozinha francesa vem de muito tempo. Desde François Vatel, o cozinheiro da realeza francesa no século XVI, a comida já era sofisticada. Hoje, não dá mais para fazer muito sofisticado. Não adianta, não tem clientela para isso. Já aprendi. Meu trabalho, na verdade, é uma forma de educação culinária, porque é importante, quem faz, saber falar sobre o seu produto para o cliente entender a diferença entre o que é realmente francês e o que não é”, explica Eric.
Em segundo lugar, ele percebeu que sua experiência proporcionou a capacidade de fazer tanto o “must” – como alguns eventos regados de refinamento que ele teve a oportunidade de fazer – quanto vender na rua. Mas foi na rua que Eric encontrou sua clientela do dia a dia.
“O meio da rua é muito interessante, porque as pessoas ficam sabendo que você existe. Eu moro em Charitas há 12 anos, mas, desde que botei minha moto com a barraquinha na rua, todo o mundo passou a me conhecer. É uma ótima maneira de divulgar meu trabalho, que tem o conceito de uma minibutique. Minha barraca é um metro quadrado de gastronomia francesa, de doçura”, declara.
Todos os doces – entre macarons, éclairs, tartelettes e outros – são feitos em uma cozinha profissional própria, que foi projetada e montada na Pousada Saint-Malo, da qual também é proprietário junto de sua esposa, Sonia Jourdan.
Em todos esses anos divididos entre França e Brasil, Eric conseguiu entender bem a lógica da cultura e do mercado gastronômico em ambos os países, considerando diferenças fundamentais, segundo ele.
“A definição de profissional na França é muito diferente daqui. Lá, você tem que trabalhar no mínimo 10 anos na cozinha para pretender ser chef, ao passo que aqui temos chef com curso de apenas 6 meses. A cozinha lá é bem intelectualizada. Nas livrarias daqui, é difícil achar livros sobre culinária brasileira, por exemplo. Lá, podemos achar milhões de títulos com muita diversidade”, reflete.