O primeiro contato da família com a entidade portuguesa ocorreu em 2018, quando a Casa de Arquitectura realizou uma exposição de trabalhos brasileiros, com o título de Infinito Vão. O cuidado com os materiais chamou a atenção da família de Lúcio Costa, que confiou na entidade para a guarda desse espólio. "É importante que o mundo reconheça a qualidade da arquitetura brasileira, mas essencialmente é importante que a sociedade brasileira reconheça a qualidade dos seus arquitetos", avalia o diretor português. A admiração pela criação de brasileiros evocou outros eventos na entidade de Portugal, tanto na modalidade presencial quanto na virtual - como uma mostra, prevista para 2023, sobre a obra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que morreu no ano passado, aos 92 anos de idade.
Visão humanitária de Lúcio Costa
Pesquisadores da obra e do legado de Lúcio Costa entendem que o arquiteto modernista deve ser reconhecido como um autor visionário, generoso e visão humanitária. Ele defendia que a organização do espaço deveria privilegiar a convivência entre pessoas de diferentes origens e classes sociais.
"Lúcio Costa é um dos faróis do saber brasileiro. Ele não foi um arquiteto empreendedor, um ganhador de dinheiro. Ele era um intelectual que amava arquitetura, desenhava e escrevia impressionantemente bem", afirma o professor de arquitetura e urbanismo Frederico Flósculo. O pesquisador contextualiza que o brasileiro teve decisiva influência de europeus, como do arquiteto francês Le Corbusier.
A discrição e a qualidade do trabalho assinado por Lúcio Costa ganhou, na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, a admiração de um dos alunos: Oscar Niemeyer, que encorajou Costa, que já contava com carreira reconhecida, a participar de um concurso diferente - o de projetos para a concepção de uma nova cidade. Lúcio Costa entregou a proposta em cima da hora, no último dia de inscrições. Ao todo, foram 26 os projetos apresentados.
A simplicidade do traço de uma cidade no formato de uma libélula (de um avião ou de uma cruz), com a previsão do cruzamento de dois eixos (rodoviário e monumental), dividindo o que chamou de Plano Piloto, em Asa Sul e Asa Norte, convenceu os julgadores. "Era uma proposta muito e que foi aceita também por causa da defesa que ele fez na redação. Era uma utopia de cidade", pontua Flósculo.
Para a pesquisadora brasiliense Ludmila Correia, Lúcio Costa colocou em prática princípios e pensamentos que estavam em grande parte somente na teoria. "Esses pensamentos eram todos modernos, que estavam sendo discutidos e, ao mesmo tempo, traziam desafios únicos. Lúcio Costa foi uma pessoa bastante visionária". Ele acreditava que, a partir da arquitetura e do urbanismo, seria possível transformar a sociedade: "Mas, depois, ele percebeu é que a organização da cidade na prática acabou incorporando os problemas da sociedade. Brasília é a experiência mais icônica", diz a professora.
Fonte: Agência Brasil