![]()
Em um dos pontos do cemitério, é possível ver acúmulo de lixo e ossos no telhado de uma das estruturas do local
Foto: Evelen Gouvêa
O Maruí pede socorro. O cemitério mais antigo de Niterói - sua inauguração data de 1857 -, no Barreto, Zona Norte da cidade, acumula problemas decorrentes da falta de manutenção e do descaso do poder público ao longo dos anos. Visitar um ente querido no local pode render uma série de surpresas desagradáveis. Em um dos ossários, a superlotação é visível: restos mortais vão se acumulando no depósito. Quem está no cemitério consegue, mesmo de longe, facilmente visualizar as ossadas. Em diversos pontos, nichos, sepulturas e gavetas estão depredadas. Em alguns casos, é possível encontrar até mesmo crânios e ossos expostos. Acúmulo de sujeira, lixo e mato alto completam o cenário digno de filme de terror.
A esposa do aposentado Waldecir Brito dos Santos, de 53 anos, está enterrada no cemitério do Barreto. Visivelmente chateado, ele enumerou alguns dos problemas do Maruí.
“Fui visitar o túmulo da minha esposa no cemitério e fiquei abismado com as sepulturas abertas, ossários quebrados. É lastimável”, disse.
O funcionário público José Roberto Freitas, de 47 anos, esteve nesta quarta-feira (7) no cemitério para acompanhar o processo de exumação do irmão, e lamentou o estado de conservação do local.
“O Maruí está péssimo, completamente abandonado”, criticou.
O coordenador-geral de serviços funerários municipal, Ricardo Villardo, reconheceu que o cemitério apresenta deficiências. Ele explicou que há anos falta manutenção no local, mantido atualmente com poucos funcionários para os serviços oferecidos: são 8 encarregados da limpeza e 6 coveiros. Outro problema é a demanda, que não condiz com o número de gavetas e nichos disponíveis. Para tentar amenizar a superlotação do cemitério, há cerca de dois meses só é permitido que moradores de Niterói sejam enterrados no local.
“As providências estão sendo tomadas, principalmente para reforma e manutenção. Estamos agora aguardando a licitação. A nossa maior necessidade é que sejam criadas mais sepulturas, é o nosso projeto mais imediato. Também temos outras demandas, como a presença mais efetiva da guarda militar. Contamos apenas com um guarda por dia para patrulhamento”, relatou.
Em relação aos restos mortais que estão expostos em cima de um dos ossários, Villardo explicou que o descaso de alguns familiares acarreta no acúmulo de ossadas nas dependências do cemitério. Ele estima que em cerca de 80% dos casos, ninguém comparece para exumação dos restos mortais após 3 anos.
“Muitos familiares não vêm buscar os corpos, mesmo depois dos três anos. Isso contribui para que o ossário fique mais cheio. Solicitamos à secretaria responsável a compra de um crematório, que é de alto custo. Para se ter uma ideia, é um aparelho que custa cerca de dois milhões. O orçamento da reforma é de um milhão. Já pedimos também a construção de outro ossário”, detalhou.
Em julho, a Prefeitura de Niterói anunciou a elaboração de um estudo elaborado por um novo Grupo de Trabalho e um pacote de obras emergenciais de R$ 1 milhão no cemitério. Na época, foi anunciado que, antes da finalização do estudo, seria promovida uma “ação emergencial” de reparo, com investimentos de R$ 1 milhão, para construção de 300 gavetas e dois mil nichos (locais de guarda de ossos). Cinco meses depois, os reparos ainda não começaram. Procurada, a prefeitura informou que ossário era coberto por um telhado, que, devido a chuvas, caiu e terá a construção do novo após a licitação. Ainda segundo o Executivo, as ossadas não reclamadas serão incineradas. Com relação ao levantamento sobre a situação dos cemitérios e Parceria Público-Privada para a reforma do Maruí, a prefeitura informou que os dois estão em andamento e que no caso do Maruí a reforma deve iniciar no começo de 2017.
Ossos expostos no Cemitério do Maruí
Tpografia
- Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
- Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
- Modo Leitura