O calendário da Igreja foi se formando ao longo dos séculos. Logo no começo, os cristãos já honravam os que haviam sido martirizados e rezavam para que intercedessem em seu favor. A comemoração regular de Todos os Santos começou em 610, quando o Papa Bonifácio IV dedicou o Panteão, um templo romano, a Maria e a todos os mártires. Depois, o Papa Gregório III (731-741) dedicou uma capela em Roma a Todos os Santos para que fossem homenageados em 1º de novembro. Finalmente, em 835, o Papa Gregório IV declarou a festa universal. A partir daí, todo o mundo cristão passou a honrar os Santos e Santas, reconhecendo seu exemplo e recebendo seu conforto.Mas um santo não nasce santo. Todo começo exige empenho e traz o desafio do desconhecido, que sempre amedronta. Quando o medo diminui é que aumenta nossa capacidade de ser alguém. Quem sabe, um santo!
No dia de Todos os Santos, relembrei antigas pessoas que trabalharam comigo, diretamente nas paróquias por onde passei. Admirei-me de constatar como muitas delas estiveram onde Deus as colocou. No Dia de Todas as Santas pensei nas mulheres que se santificaram e que nos santificaram, com seu trabalho tecido de silêncio. Mães, colaboradoras, servidoras. Algumas estavam sempre por ali, onde estávamos, e foram de uma presença tão intensa e discreta, que é impossível não as mencionar nas orações, até como agradecimento pelo tanto que elas nos fizeram crescer. Lembro-me bem de uma senhora que trabalhou na casa onde eu morava. Era uma senhora morena, já com certa idade, mas com imensa disposição para estar presente em tudo e colaborar com todos. Nunca a vi queixar-se de nada. Ao contrário, dizia sempre que o mundo já tem muita tristeza, sempre maior do que aquela que trazemos conosco. Quanta sabedoria!
O lugar era pequeno, as chances de bom pagamento naquela época eram escassas, mais havia que dar ao povo do que esperar dele. Mas ela nunca faltou, nunca me deixou esperar por nada de que necessitasse, adiantava-se a tudo, no saber honesto da gente simples que tudo sabe e por isso dispensa dizer. E nos raros momentos em que a surpreendi “não fazendo nada”, seu olhar se dirigia para a capela mais próxima, onde houvesse a Presença Eucarística. Um dia lhe perguntei: “Por que a senhora olha para lá?” Ela abriu os pesados braços e me respondeu, por entre um sorriso: “Porque lá é tudo!”
Nessas mulheres fomos expostos a nós mesmos. Nessas mulheres somos chamados à acolhida do outro. O que restou desses momentos ficará para sempre como o exercício de um olhar de compaixão. A palavra Compaixão, em hebraico, tem na etimologia a palavra útero. Talvez seja isso mesmo. O contato com essas mulheres simples representou tudo isso: exercício de compaixão, cuidado que faz nascer, carinho para acolher a vida.
Depois disso, estivemos mais prontos, melhores e maiores do que quando tudo começou. Com elas, começamos a ser santos.
Todos os santos e as santas todas
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