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No livro “Cara a Cara”, Rodrigo Santos faz um relato sincero de como conseguiu deixar para trás o vício em drogas
Foto: Divulgação
Conhecido do grande público como o baixista do Barão Vermelho, Rodrigo Luiz de Castro Santos, ou simplesmente Rodrigo Santos, tem uma história de superação na vida que daria um livro. E de fato deu. Intitulada “Cara a Cara” (Neutra Editora e Ultra Music), a biografia do roqueiro foi escrita pelo jornalista Ricardo Puglialli, o mesmo autor de “Beatlemania” (Ediouro). Ele foi convidado pelo próprio Rodrigo, um grande fã do quarteto de Liverpool, que tem, inclusive, uma banda cover ao lado de seu companheiro de Barão Guto Goffi (bateria), George Israel (guitarra), do Kid Abelha, além de Nani Dias, também guitarrista. A banda se chama “Os Britos” e chegou a viajar para a Inglaterra. Também gravaram CD e DVD, lançados em 2006.
Ricardo teve a missão de reunir uma história que tinha tudo para ter um final trágico como o de muitos astros do rock, como Kurt Coubain, do Nirvana, e Sid Vicious, do Sex Pistols. No entanto, uma reviravolta no ano de 2005 salvou a vida de Rodrigo. Foi quando ele, pressionado por amigos de banda e também familiares, resolveu largar de vez as drogas, inclusive o álcool. Fazendo jus ao título, “Cara a Cara”, ele não abre mão de contar seu envolvimento com as drogas e ilusões vividas por causa do problema com a dependência química. Além disso, a ideia foi retratar a música, mostrando que ela de fato foi mais forte na vida dele, conseguindo salvá-lo no fim das contas. Com prefácio de Roberto Frejat e depoimentos de Paula Toller, Leo Jaime, Lobão, Guto Goffi e muitos outros companheiros de estrada e amigos, o livro traz ainda mais de 400 fotos inéditas. Como brinde aos fãs, o livro encarta um CD de inéditas com cinco músicas, incluindo sua primeira canção, composta aos 12 anos, “Anna”, em homenagem a sua irmã.
Durante uma entrevista a O FLUMINENSE, ele conta sobre o processo de produção da biografia e, principalmente, sobre o momento delicado com as drogas. Revela, inclusive, que a decisão de parar veio depois de um ultimato que recebeu do vocalista Roberto Fretat, responsável pelo prefácio de “Cara a Cara”, e de todos os demais integrantes do Barão Vermelho depois de mais um episódio de excessos que deixou toda a banda preocupada. Rodrigo conta em um trecho que abre a biografia que, durante um fim de semana de shows na Região Serrana do Rio, se hospedou com a mulher e o filho em um hotel da cidade. Depois de ter bebido bastante, inclusive durante o show, ele queria algo mais pesado.
“Eu queria pegar droga. Contra a vontade de todos, que já estavam indo para o hotel, fui sozinho de carro até Petrópolis, às 3h, tentar arrumar por lá”, relata, ressaltando que chegou a voltar para o Rio. “Eu tinha todos os contatos dos motoboys da Rocinha. Cheguei em casa às 5h e já corri para o telefone. Liguei para todos e ninguém atendeu. Por ironia do destino, nessa madrugada não ia rolar ‘delivery’. Já eram 6h e eu estava exausto. Dormi até às 9h, acordei e decidi voltar logo a Teresópolis, buscar minha mulher e meu filho e seguir para alcançar Petrópolis antes do meio-dia, pois era a hora em que o ônibus-leito do Barão ia chegar. Eu não queria ouvir gracinhas ou dar margem para comentários. Saí de casa com uma garrafa de vinho no banco do carona”, conta.![]()
Acima, o novo álbum de Rodrigo e a capa da biografia escrita pelo jornalista Ricardo Puglialli
Foto: Divulgação
Após a apresentação daquela noite, Frejat convocou uma reunião para o dia seguinte, uma segunda-feira de manhã, onde daria o tal ultimato. “Ou você para, ou está fora”. Ele aceitou se tratar. Um dos mais empolgados com a volta do Barão Vermelho em 2004, depois de um hiato desde 2001, Rodrigo não queria pôr tudo a perder. Mas isso quase aconteceu quando ele resolveu, depois de aceitar o ultimato, fazer uma espécie de despedida das drogas, segundo ele, a última doideira.
“Cheirei e bebi até às 4h e só fui dormir às 7h. Só que uma gravação inesperada quase pôs tudo a perder. Às 9h, o telefone tocou sem parar, sem que eu tivesse forças para atender”, revela.
Quem ligava insistentemente era o DJ Memê, chamando Rodrigo para gravar um rock da Rita Lee para uma rádio na época. Quando finalmente conseguiu ter forças para atender, com a voz de ressaca, quem estava do outro lado da linha era o Frejat, que esbravejou: “De novo? A reunião foi ontem!”.
“Com a sensação de uma bigorna caindo em minha cabeça, junto com uma culpa horrorosa, eu então respondi: ‘Cara, não desmarca a gravação, não! ...não sei o que está acontecendo comigo, realmente preciso de ajuda, eu vou me tratar’. E realmente consegui gravar à noite, com todos”.
Cansado e questionando o que estava acontecendo consigo mesmo, Rodrigo decidiu procurar ajuda. Ele ligou para o seu irmão mais velho, que, assim como sua irmã também mais velha, sofreu problemas com drogas desde a adolescência.
“Pedi o telefone do Dr. Jaderson, que o havia tratado. Ele só poderia atender no sábado. Era terça, e tinha dois shows do Barão quarta e quinta, na Região dos Lagos. Desde essa terça, eu não bebi nunca mais.
“Nunca mais bebi nem me droguei. O Dr. Jaderson salvou minha vida”, revela.
Desde então, ele começou a frequentar as reuniões de reabilitação da clínica Centro Vida, em Santa Tereza, no Rio, onde ficou por cinco anos, vindo a ser, inclusive, um dos coordenadores do trabalho. Logo com 18 dias, um grande desafio: a gravação do primeiro DVD do Barão Vermelho no Circo Voador, na Lapa, bem no coração da boemia carioca, e também uma tentação e tanto para uma recaída.
“Foi um pouco complicado para conciliar os ensaios com as reuniões, mas eu conseguia participar dos dois. O pessoal da banda entendia e me apoiava. Nunca mais senti vontade de me drogar. Depois que eu parei, consegui ver o que estava me fazendo, inclusive com a minha criatividade, a droga estava limando isso”, conta.
De fato, sua criatividade aflorou tanto que, quando o Barão fez nova pausa em 2007, Rodrigo já se dedicava a sua carreira solo. De lá para cá, ele lançou “Um pouco mais de calma” (2007) e “O diário do homem invisível” (2009), em 2010, iniciou um projeto onde fazia shows em cima de uma Kombi e gravou um CD em inglês, “Waiting On A Friend”, que inclui uma música inédita de Paul McCartney e outra inédita de John Lennon, que culminou no primeiro DVD solo “Ao Vivo Em Ipanema” (2011). Seu álbum de inéditas mais recentes é “Motel Maravilha”, lançado em 2013.
O agora - Seu trabalho mais recente é o CD/DVD “Festa Rock vol 1” (Coqueiro Verde), lançado também neste mês de dezembro e que promete ser o primeiro de diversos volumes com versões dele para grandes sucessos da MPB, não necessariamente do rock. Neste primeiro, são apresentados alguns clássicos do cancioneiro nacional de nomes como Gilberto Gil, Novos Baianos, Jorge Ben Jor, Barão, Legião, Paralamas, Lobão, Los Hermanos, Raimundos, Ultraje a Rigor, Skank e Charlie Brown Jr. Para o volume 2, já estão engatilhados outros artistas.
“A ideia é que o projeto seja um complemento à minha carreira, entre os discos autorais. Seria o meu lado de intérprete do rock”, antecipa Rodrigo.
A Livraria Argumento fica na Rua Dias Ferreira, 417 - Leblon, Rio de Janeiro – RJ. Hoje, a partir das 17h. Telefone:(21) 2239-5294
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