Opinião: Por que é difícil ser feliz depois dos 50 anos de idade? (O admirável mundo novo do século XXI)

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É realmente de se lamentar que a finitude existencial humana e, mais do que isso, o completo encerramento da juventude, tenha chegado para todos aqueles que hoje têm mais de meio século de idade, justamente quando um novo mundo, após a terceira revolução industrial, tenha aberto para as crianças, adolescentes e jovens oportunidades até então inimagináveis, tornando esta fase da vida, de forma diversa daquela desfrutada no passado, simplesmente incrível.

De forma muito diferente das décadas de 60 e 70 da centúria pretérita - em que simplesmente não havia o que fazer aos domingos (e o tédio era reinante) -, hoje as crianças, adolescentes e jovens adultos, ao reverso -e para absoluta perplexidade daqueles que estão caminhando para a terceira idade-, simplesmente não possuem tempo suficiente para desfrutarem das inúmeras opções que lhe são ofertadas.

Nos colégios, de forma muito diferenciada do século que passou, o pavor das segundas-feiras (que representava o início de uma longa jornada de cinco dias de bullying diário, combinada com a indiferença dos professores, e uma pressão permanente por resultados sem qualquer contrapartida) foi magicamente substituído pelo prazer de rever os amigos, e da possibilidade (real) de aprender construtivamente. 

O aluno, como numa autêntica revolução, deixou de ser um objeto para se tornar um ser humano, digno de respeito, passando a ser o protagonista de um processo (verdadeiramente) divertido (e desafiador) de aprendizado.

A independência e a liberdade (que, para os mais retrógrados, são até mesmo exagerados) permitem, hoje, que os integrantes das gerações mais recentes possam se comunicar livremente via whatsapp e aplicativos análogos, sem a interferência (muitas vezes castradora) dos pais, além de poder localizar (e acessar) seus amigos 24 horas por dia, algo impensável 50 anos atrás, quando a única forma de comunicação - o (dispendioso)  telefone fixo- não somente limitava o tempo da conversa (impedindo, inclusive, as ligações interurbanas e internacionais), como exigia que fossemos obrigados a dar todo o tipo de explicação para os "zelosos" pais que, muitas vezes, após longos interrogatórios, permitiam ou não que acessássemos nossos amigos.

Namorar, então, era quase um ato de heroísmo e, com certeza, de sublime coragem.

Tudo mudou. E mudou rapidamente.

Os rápidos avanços tecnológicos literalmente passaram por cima das " muralhas" que nos separavam e nos oprimiam. A felicidade (ou, ao menos, a possibilidade de obtê-la) parece ter se tornado uma realidade.

Castigos físicos (comuns no passado) passaram a ser severamente condenáveis, nascendo até mesmo a inacreditável possibilidade de se reclamar (e ser ouvido) contra maus tratos por parte dos responsáveis.

O diálogo substituiu, como na realização de um suposto sonho impossível, a "sova" desumana e, muitas vezes, incompreensível.

O mundo não se tornou perfeito, é fato, mas mudou radicalmente e, com certeza, para melhor.

O amor (respeitoso) passou a ser a tônica, substituindo o pseudoamor impositivo dos pais controladores que se comportavam como genuínos deuses na Terra.

A verdade (plural e democraticamente disseminada via Internet) substituiu a mentira (singularmente imposta), permitindo a contestação das narrativas. Os dogmas passaram a ser, pela primeira vez de forma ampla, contestáveis....

Tabus retornaram às suas origens...ou seja, às trevas de sua própria insignificância.

Trata-se, destarte, de um admirável mundo novo que somente quem viveu nos primórdios da civilização tecnológica pode realmente mensurar e valorizar.

Por Reis Friede, desembargador federal e presidente do TRF-2 (RJ e ES)