Além da reconstrução em 3D

Maria Clara Frotée é pesquisadora júnior do grupo. Ela estuda uso de biofármacos em casos de osteossarcoma - Foto: Divulgação

Niterói
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Em um avanço significativo nas áreas de odontologia e medicina, o professor Luis Eduardo Carneiro Campos, docente no Instituto de Saúde de Nova Friburgo da Universidade Federal Fluminense (ISNF/UFF), lidera o grupo de pesquisa Núcleo Avançado de Regeneração em Odontologia e Ortopedia (NA.ROOTS). O projeto é uma iniciativa que está sendo firmada entre a UFF e a startup dinamarquesa Ossiform, que busca reescrever a forma de reconstruir estruturas ósseas perdidas por traumas ou doenças ósseas.

Em 2013, Luis Eduardo iniciou o projeto com o intuito de solucionar problemas relacionados aos enxertos ósseos para a instalação de implantes dentários. Diferente das abordagens atuais, que requerem grandes cirurgias para a retirada de enxertos em áreas doadoras do próprio paciente, a impressão 3D possibilitará resultados de menores riscos e maior efetividade. Devido à complexidade, falta de materiais disponíveis e altos custos associados às tecnologias disponíveis, o projeto foi retomado a partir 2020, quando as primeiras estruturas tridimensionais para regeneração óssea chegaram ao Brasil e tiveram seus testes iniciados com a professora Paula Barbar da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), principalmente nas análises físico-químicas.

"Com o tempo, ganhamos visibilidade de uma startup de biofabricação e bioimpressão de São Paulo, a Bioedtech, através de suas co-criadoras Dra. Janaína Dernowsek e Isabela Poley, que nos convidaram para palestrar em um webinar sobre a impressão 3D na odontologia. A partir disso, conhecemos outras pessoas, como o Emanuel Campos, um dos maiores expoentes de impressão 3D no Brasil, e chegamos ao Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) após sermos apresentados à Dra. Juliana Daguano. Atualmente, estamos firmando parceria junto ao CTI Renato Archer, com o objetivo de transmissão de tecnologias e conhecimento mútuo", conta.

De acordo com o pesquisador, até o momento, apenas iniciativas incipientes estão ocorrendo neste mercado para o uso clínico rotineiro. O foco do projeto é aproximar nos próximos anos a tecnologia dinamarquesa do mercado brasileiro através da parceria com a UFF.

Devido a funcionalidade da tecnologia, atualmente, o NA.ROOTS abrange não só soluções em odontologia, mas também em ortopedia e neurocirurgia. Segundo o professor, o produto enviado pela startup é utilizado em uma série de pesquisas, com foco no preparo de alunos de graduação que tenham intenção em seguir pesquisando. A mais recente delas foi um trabalho de conclusão de curso de graduação, que tratou da análise microscópica e resposta celular imediata dos arcabouços fabricados em beta fosfato tricálcico (Beta-TCP), uma cerâmica sintética que possui afinidade com o osso.

"O objeto futuro do NA.ROOTS é viabilizar que este produto possa ser preparado de forma a se transformar em tecido ósseo com células do próprio paciente antes de que o enxerto seja realizado, ou seja, já colocar o osso pronto, sem a necessidade de enxertar um material que foi impresso para se transformar. Já o objeto atual trata da utilização desses arcabouços — que inicialmente eram apenas para traumas — no tratamento do câncer ósseo como carreador de medicamentos para a quimioterapia", explica Luis.

No momento, estão sendo desenvolvidos estudos junto a Faculdade de Biomedicina do Instituto de Saúde de Nova Friburgo junto aos professores Vinícius D'Avilla Pascoal e Aislan Pascoal e ao CTI Renato Archer com a professora Juliana Daguano, a fim de transformar os arcabouços de Beta-TCP em dispensadores de fármacos quimioterápicos para o tratamento do osteossarcoma, um tipo de câncer ósseo com maior incidência em pessoas jovens. O seu tratamento tradicional envolve quimioterapia, radioterapia e a remoção cirúrgica da parte afetada. De acordo com o pesquisador, a ideia de trabalhar com biofármacos se deve ao propósito de, ao serem liberados no organismo, não só ajudarem no tratamento do câncer ósseo, mas também reduzirem os efeitos tóxicos da quimioterapia.

A aluna de iniciação científica, pesquisadora júnior líder do grupo e bolsista da Agência de Inovação (Agir/UFF), Maria Clara Frotté acrescenta que "se um paciente é diagnosticado com osteossarcoma na região da mandíbula, por exemplo, além da quimio e da radio, é preciso fazer a remoção cirúrgica dessa região. Isso resulta em uma lacuna na mandíbula, que gera problemas funcionais e estéticos. O tratamento com quimio e radio tem ação sistêmica, então não age apenas na região alvo, e a ressecção cirúrgica não promete que não vá ocorrer recidiva da doença. Por isso, estudamos o uso de biofármacos em ação adjunta ao Beta-TCP para preencher essa lacuna". (Fonte: UFF).