Cinco anos depois, pandemia da Covid mudou a ciência e a saúde pública

Idosa realizando teste de Covid-19 - Foto: Reprodução

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Cinco anos depois do início da pandemia da Covid-19, que deixou centenas de milhares de mortos no Brasil e milhões no mundo, um legado de cuidado à saúde pública e a rastreio de vírus foi deixado. A pandemia acelerou avanços científicos e colaboração internacional na vigilância epidemiológica, o que inclui cientistas e governos.

Ao Jornal Opção, o biólogo PhD em Microbiologia, Luiz Almeida, do Instituto Questão de Ciência (IQC), explicou o maior avanço científico durante a pandemia são as vacinas RNA. “A tecnologia já existia, mas a ciência ainda não sabia se funcionava. Cientistas fizeram os testes necessários para comprovar a segurança e se teve o avanço grandioso para controlar o número de casos e mortes. Isso já havia sido feito durante a Segunda Guerra Mundial e, durante a pandemia, vimos que estávamos em guerra, só que dessa vez contra um vírus”, diz.

O avanço, segundo Luiz, trouxe benefícios não só contra o vírus, mas contra outras doenças. “Estamos colhendo frutos do legado dessas vacinas genéticas. Existem testes de vacinas contra o câncer e outras doenças genéticas, que futuramente trarão soluções para a luta contra o câncer e contra doenças autoimunes”, continua.

De acordo com o microbiólogo, o sequenciamento genético, que foi feito em tempo recorde durante a crise sanitária, também foi uma inovação relevante. “Muitos institutos de ciências fazem o monitoramento de vírus que possuem chances de atingir humanos, e isso é feito com muitos animais em muitos ambientes. Então tomamos muito cuidado, tanto é que quando a Covid chegou ao Brasil, o sequenciamento genético do vírus estava pronto. Então, com investimento contínuo na ciência é possível evitar crises”, afirmou.

“Durante a pandemia houve um grande aporte de investimentos para a detecção e vigilância de vírus. Mas, agora, está acontecendo recuos importantes nesta área. Um exemplo é a saída dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde, o que dificulta a vigilância epidemiológica global”.

Luiz explica, também, que existe uma comunicação global da comunidade cientifica que é essencial para a contenção de novos vírus. “Temos sites e comunidades cientificas que sempre disponibilizam dados. Caso um vírus seja encontrado, em questão de horas todos já estão sabendo. Temos uma grande colaboração global e foi assim durante a pandemia e sempre será”, diz.

“Hoje, o mundo pode estar mais preparado caso as pessoas tenham aprendido a lição que a pandemia trouxe. Espero que a ciência, também, tenha entendido que é necessário se comunicar mais com a população, a OMS precisa se comunicar melhor e de forma mais clara para realmente atingir a população para que as medidas necessárias possam ser tomadas. A comunicação é o pilar mais importante que podemos aprender com a pandemia”, completou.

Sistemas de saúde

Já para os sistemas de saúde, a maior lição deixada foi a necessidade de preparação e de se esperar o pior, é o que explica superintendente de Saúde de Goiás, Flúvia Amorim, ao Jornal Opção. “Vimos a necessidade de todos os serviços de saúde terem planos de emergência ou de contingência para atuar diante doenças e epidemias desconhecidas. O legado mais importante é aprender e estar preparado para tal, mesmo que não aconteça”, diz.

Para Flúvia, a pandemia deixou evidente que é necessário investimentos na assistência e na construção de hospitais. “No início investimos em hospitais de campanha em estruturas já existentes, às vezes inacabadas ou pouco utilizadas, para que no pós pandemia isso pudesse ser utilizado pela população. Em Goiás, temos 23 hospitais estaduais, antes da pandemia eram sete. Então isso foi ampliado e regionalizado”.

“A primeiro momento acreditávamos que a rede estadual suportaria atender quem precisaria de tratamento para a doença. Mas com o tempo percebemos que era necessário ampliar muito mais, pois a doença era muito pio que imaginávamos. A regionalização ajudou e vem ajudando, em relação a epidemias de dengue. Mas, na época, precisávamos preparar não só as unidades hospitalares de alta complexidade, mas principalmente todos os profissionais que estão ali na atenção primária à saúde. Não adianta só ter hospitais, precisamos dessa atenção primária, menos com menor complexidade de atendimento, para estarmos preparados para possíveis demandas que possam vir”, completa.

Por Luan Monteiro