Renan Antônio da Silva, 31 anos, residente em Serrania, sul de Minas Gerais, de origem humilde, filho de uma cabeleireira e um metalúrgico ambos aposentados, é o protagonista da nossa coluna hoje.
Esse jovem desde muito cedo sonhou que poderia cursar a universidade pública e com seu empenho logo cedo se formou, mas sua caminhada não parou por aí, Renan tem sido nos últimos anos o pesquisador brasileiro com maior expressão acadêmica mundial, comprovando que sua base no ensino público fundamentou toda sua jornada.
Hoje doutorado pela UNESP e PHD nas áreas de educação, política, psicologia, história e ciências sociais, no Brasil e no exterior, foi aceito para o programa da livre-docência na USP, entre os mais de 465 candidatos inscritos.
Renan é um exemplo de que a origem não é determinante para o seu futuro, mas a base educacional, o apoio familiar e a determinação são os ingredientes necessários para o sucesso.
Esse jovem estudioso pesquisador teve como exemplo sua prima Eliana Eduardo, que leciona Química na ETEC de Orlândia, interior de São Paulo. "Uma docente guerreira que busca levar o conhecimento com seu jeito sério, mas com um coração do tamanho do mundo", conta ele.
Devemos refletir o quão precioso é o nosso exemplo no desempenhar pedagógico da vida, dentro e fora da sala de aula, pois somos frequentemente observados por todos, desde a criança até os adultos.
Como o senhor analisa o resultado do IDEB 2019 divulgado recentemente no Brasil?
No lançamento do Ideb-2019 em setembro de 2020 houve algum alvoroço em torno do avanço no Ensino Médio (EM), em grande parte ocasionado pelo ceticismo dominante nesta etapa da Educação Básica (EB), considerada desafio maior atual. Desta reticência proveio a Reforma do EM do governo Temer (2017), refletindo-se também na BNCC que, ao introduzir o EM, fala, de maneira muito insólita, de "recriação da escola", indicando que a atual já não serve mais. Em termos do "aprendizado adequado", dados de 2017 do Ideb mostram que apenas 9.1% aprenderam matemática no EM (foram 11.6% em 1995); 29.1% aprenderam língua portuguesa em 2017 (eram 45.4% em 1995 - um recuo dramático). Esta situação sugere que a prática atual instrucionista escolar é extremamente contraproducente: "há ensino na escola, não aprendizagem". Ainda, o instrucionismo reinante é mantido pelos governos, independentemente da ideologia no poder, de certa forma, confirmando este instrucionismo como patrimônio global, puxado em especial pelo PISA. Dada a distância enorme para com a meta em todos os casos, este ganho é pífio, para dizer o mínimo, e se deve, por hipótese, ao fato de que o sistema foi mexido pela Reforma, movendo-se um pouco. Na prática, não ocorreu mudança significativa, porquanto o sistema de ensino persiste no instrucionismo, sobretudo nada tem a ver com a expectativa da BNCC de "recriação da escola".
O fato de o Ideb do EM indicar um pequeno avanço (de 0,4 p.) provocou algum frisson, também porque o avanço apareceu onde menos se esperava. Tradicionalmente, a parte que melhor avança na educação básica é nos anos iniciais e a que menos avança é no ensino médio. No entanto, talvez por algum impacto da Reforma do ensino médio de 2017, houve alguma mexida favorável. Observando os dados mais de perto, porém, os resultados continuam ainda perplexamente muito insuficientes, muito embora despontem casos promissores, com destaque para Goiás, Espírito Santo e Ceará. Do ângulo das escolas de ensino médio, o cenário ainda é muito precário, em todas as regiões, restando a impressão forte de que escola de ensino médio de qualidade elevada é uma raridade, mesmo no Sudeste e no Sul. Assim, não cremos que os dados indiquem alguma virada, mesmo que a BNCC assim preconize, com o termo forte "recriação da escola", porque o avanço está mais para um soluço ou solavanco, do que para uma proposta consistentemente reconstruída. Afinal, o professor que conclui a pedagogia ou licenciatura ainda é tipicamente um profissional do ensino, muito distanciado do direito do estudante de aprender. Na escola, ao invés de organizar "atividades de aprendizagem", organiza sessões de repasse de conteúdo, que não implicam ler, estudar, pesquisar, elaborar etc.
Temos de levar em conta que o ensino médio acaba tendo de resolver um acúmulo sistemático de mazelas anteriores do anos iniciais e dos anos finais. Por exemplo, o aprendizado de matemática fica muito prejudicado, se o estudante chega sem fundamentos anteriores imprescindíveis. Vale isso também para a língua portuguesa: se o estudante não tem fundamentos de gramática e elaboração de texto, é uma lide dura recuperar isso no ensino médio. Ao final, porém, o resultado do ensino médio ainda é muito precário: é a etapa da educação básica mais carente de qualidade pedagógica e acadêmica.
Entrevista com o futuro mais jovem livre-docente do Brasil
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